Ao falar sobre o Fluminense, não é incomum ouvir piadas e comentários sobre o famoso “tapetão”. Mas de onde vem essa fama? Qual a origem dessas piadas e o que realmente aconteceu nos bastidores para que o clube fosse associado a essa prática? Vamos esclarecer esses episódios históricos que marcaram o Fluminense e originaram essa alcunha no mundo do futebol.
1996: O Primeiro “Tapetão”
O ano de 1996 foi o marco inicial para que o Fluminense ganhasse a fama de ser beneficiado pelos tribunais. Naquele ano, o tricolor carioca terminaria o Campeonato Brasileiro rebaixado, mas foi salvo por uma decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O famoso “Caso Ives Mendes” foi o responsável por essa virada.
Ives Mendes, que era então chefe da Comissão de Arbitragem, foi flagrado em escutas telefônicas favorecendo alguns clubes com manipulação de resultados. Como a irregularidade foi comprovada, o STJD decidiu cancelar o rebaixamento, salvando o Fluminense e outros clubes da queda para a Série B. Essa “mão amiga” dos tribunais foi a primeira mancha que fez surgir as piadas de que o Flu sempre se dava bem nos bastidores.
Esse episódio foi o pontapé inicial para a criação do mito do “tapetão”. Embora o Fluminense não tenha sido o único beneficiado, o fato de ser um grande clube do Rio de Janeiro deu mais notoriedade ao caso, e os torcedores rivais não perderam tempo em começar as provocações.
1997 e 1998: A Queda Inevitável
Apesar do adiamento do rebaixamento em 1996, o Fluminense não conseguiu evitar o inevitável. Em 1997, o clube fez uma campanha desastrosa no Campeonato Brasileiro e, dessa vez, terminou o torneio na vice-lanterna, caindo para a Série B. O desempenho fraco foi uma evidência de que a salvação do ano anterior foi apenas uma prorrogação do problema.
No entanto, 1998 trouxe um novo golpe para o tricolor. O Fluminense, já na Série B, teve uma das piores campanhas e acabou rebaixado para a Série C, o fundo do poço do futebol brasileiro. Naquele momento, as piadas sobre o clube começaram a ganhar força. Se em 96 o “tapetão” tinha funcionado, dessa vez a ruína esportiva era incontestável.
Esse período foi o mais sombrio da história do Fluminense. No entanto, apesar dos rebaixamentos, a esperança de uma “ajuda externa” nos tribunais nunca saiu do imaginário dos torcedores rivais.
2000: A Copa João Havelange e o Retorno Inusitado
O ano de 2000 foi um marco na história do Fluminense e também no futebol brasileiro. O clube, que tinha sido campeão da Série C em 1999 e, teoricamente, deveria disputar a Série B no ano seguinte, acabou se beneficiando de uma decisão polêmica que alterou todo o Campeonato Brasileiro daquele ano.
Com a CBF envolvida em disputas judiciais, o Clube dos 13 assumiu a organização do Campeonato Brasileiro, criando a Copa João Havelange. O formato foi organizado em módulos, sem divisões claras entre séries A, B ou C. O Fluminense, que deveria estar na Série B, foi colocado diretamente no Módulo Azul, equivalente à elite do futebol. Ou seja, sem nunca ter disputado a Série B, o clube já retornava ao topo.
Esse retorno inesperado reacendeu as piadas sobre o “tapetão”, e muitos rivais questionavam como um clube que vinha da Série C poderia, sem mérito esportivo, voltar à Série A sem passar pela B.Essa decisão do Clube dos 13 foi uma das mais polêmicas da história do futebol brasileiro. A percepção de que o Fluminense sempre encontrava uma forma de escapar dos rebaixamentos via tribunais ou manobras nos bastidores só aumentou, consolidando de vez a alcunha de “time do tapetão”.
2013: O Caso Héverton e a Portuguesa
Um dos episódios mais recentes e comentados foi o rebaixamento de 2013. Após uma campanha ruim, o Fluminense terminou o campeonato entre os quatro últimos colocados, sendo rebaixado dentro de campo. No entanto, uma irregularidade cometida pela Portuguesa acabou mudando o destino do tricolor.
A Lusa escalou o meia Héverton de forma irregular na última rodada do campeonato, o que levou o STJD a punir o clube paulista com a perda de quatro pontos. Com isso, a Portuguesa, que havia escapado do rebaixamento, caiu para a Série B, e o Fluminense, que estava rebaixado, foi salvo novamente.
Esse episódio reforçou ainda mais as piadas e críticas em torno do “tapetão” tricolor. Para muitos, esse foi o terceiro grande caso em que o clube se beneficiou de decisões judiciais para se manter na elite.
Este caso se tornou emblemático porque, mesmo com o Fluminense não sendo diretamente responsável pela irregularidade da Portuguesa, a imagem do clube ficou ainda mais associada às decisões dos tribunais. Foi o estopim para consolidar de vez a narrativa do “tapetão” entre os torcedores rivais.
O Tapetão e a Cultura do Futebol
A fama do Fluminense como “time do tapetão” nasceu e se desenvolveu por causa desses episódios que, ao longo de décadas, envolveram o clube em polêmicas judiciais. Embora o tricolor tenha tido seus méritos dentro de campo, as intervenções dos tribunais marcaram profundamente sua trajetória. As piadas e provocações dos rivais seguem vivas até hoje, mostrando como a história do futebol é permeada por disputas que vão além das quatro linhas.
No fim, o que fica é a imagem de que, no futebol, nem sempre tudo se decide no gramado. E o Fluminense, por sorte ou estratégia, soube como poucos aproveitar as oportunidades que surgiram fora dele.